“A
PRIMEIRA MENSAGEM”
Meus amigos, bom dia! Para esta
segunda-feira, dia 12/09, escolhemos uma crônica, bem profunda e abrangente, que
fala de um assunto que afeta a todos nós, a taxação dos produtos essenciais
como supérfluos. Parece um assunto pesado, mas creiam que o autor torna-o
alertador e bem-humorado. O nome do escritor: Walmir Ayala - (1933-1991), escritor gaúcho, consagrado por sua
vasta atividade cultural.
Aproveito para desejar uma
boa leitura e uma semana maravilhosa, cheia de conquistas positivas e muita paz
para o nosso país. Vamos à crônica que selecionamos pra vocês.
- O AR, A CAVERNA, A ÁGUA E O FOGO -
O ar, a caverna, a água, o
fogo, o pão, a carne e a pele do bisonte, são as únicas coisas que não são
supérfluas para a sobrevivência do homem, daí o perigo das taxações sobre o
supérfluo, porque pode nos levar inexoravelmente para a Idade de Pedra. Tudo
que a ciência e o progresso acrescentaram ao mínimo indispensável à vida pode
vir a ser considerado como supérfluo. O que não quer dizer que a grande
maioria, de baixo poder aquisitivo, venha a ter esse mínimo a custo inferior ao
da taxação atual. Os remédios, por exemplo, não podem ser considerados
supérfluos, mas têm preços de artigo de luxo.
Mais uma vez recorremos a imagem pré-histórica: temos que nos
socorrer nas ervas, nas simpatias, nos medicamentos caseiros, nas benzedeiras,
já que a indústria da medicina é uma das mais caras que conhecemos. Passemos
aos dentistas, só nos resta deixar perder os dentes, como coisa supérflua, pois
um tratamento dentário cabe em muito poucos rendimentos. Vejamos o ensino pago,
há muito que tem preço de artigo supérfluo. As mensalidades, o livro didático,
os reajustes, os uniformes, tudo engolindo boa parte dos recursos domésticos e
obrigando os pais a acabar encarando como supérfluos, já que são proibitivos. A
escola pública, por sua vez, não assimila toda clientela disponível de alunos,
e só nos resta alfabetizar os nossos filhos em casa, ou ensinar-lhes uma nova
saída, como a de Robson Crusoé, reconstruindo a vida do nada tecnológico, ou
seja, de tudo que é natural.
A preço proibitivo nos chega tudo que é tocado pela mão sinistra
do chamado atravessador, já que o produtor vende barato e nós estamos
condenados a pagar caro. O atravessador considera, certamente, artigos como o
feijão, o arroz, o trigo, a batata, os ovos, a cebola, o alho, as verduras, os
cereais, a carne e aves como supérfluos. Apesar disso ninguém consegue pôr a
mão no atravessador, e todo mundo sabe que ele existe e os estragos que faz.
Chega a pouco mais de uma centena a lista dos supérfluos na qual estão os
cigarros, bebidas alcoólicas, pneus, e outras mercadorias de largo consumo
popular. Entre eles alguns artigos que só uma minoria pode consumir, como o
champanhe, o caviar e os perfumes. Acontece que essa minoria pouco se preocupa
com as taxações, pois sempre terá meios de garantir o seu perfume escocês e seu
perfume francês. Os consumidores de cerveja é que estão chiando, e lhes
creditamos razão.
Mas vá lá que se admita que 100 ou 150 itens do supérfluo,
perguntamos: e o que não é considerado supérfluo se beneficiará de taxação
inversa, atingindo um nível mais justo numa hora aflitiva? Baixará o custo do
ensino pago, dos remédios dos gêneros de primeira necessidade? Ou deixará a
triste maioria dos desfavorecidos olhando esses benefícios necessários como
coisa considerada supérflua, já que inatingível.
Sem dentes, sem saúde, e subnutridos, só nos resta a caverna, a
nudez, o chá, a pesca e a caça, enquanto as poluições nos permitem desfrutar da
natureza como fonte de vida. Enquanto os poluidores não extinguem a fauna, a
flora os rios e as montanhas considerando-as como coisa supérflua e condenada.
O melhor seria não taxar os supérfluos, mas criar uma lei de
redução de preços do que deve ser considerado necessário, e indispensável,
pedindo contas à indústria farmacêutica, aos donos do ensino pago, aos médicos
e aos dentistas, aos editores do livro didático, sobre a razão de suas taxas de
custo e qual a proporção de seus lucros. Talvez tivéssemos algumas respostas
conclusivas se mergulhássemos no assunto. Isso antes de tomarmos nossa jangada
rumo à ilha de Robson Crusoé, onde nada é supérfluo.
A menos que nos tirem a
jangada por ser supérflua.
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Texto de Walmir Ayala, extraído do livro “Walmir Ayala - Crônica
para Jovens”, da editora Global.
Comentário de UBAV-Brasil
Foi com muito prazer
que apresentamos essa crônica que continua atualíssima. A
sequência de escritores cronistas que a Editora Global apresenta é de grande
qualidade, e queremos recomendar a leitura dos seguintes mestres: Walmir Ayala, Ferreira Gullar, Rubem Braga,
Affonso Romano de Santana, Marina Colasanti, Cecília Meireles, Manuel Bandeira,
Marcos Rey e Ignácio de Loyola Brandão.
A leitura é uma
atividade maravilhosa e completa. Ela aprimora a nossa cultura geral
proporcionando o entendimento e o contato com várias culturas diferentes. Ela
nos permite realizar viagens incríveis sob o olhar do escritor. Lendo, nós nos
tornamos mais reflexivos, capazes de formar uma ideia real dos fatos. Com a
leitura, falamos e escrevemos melhor, além de que quem lê muito, começa a
refletir mais rápido.
Outra vantagem da
leitura é o aumento do vocabulário, cada vez mais minguante no comportamento do
jovem moderno. A leitura, assim como os aplicativos do smartphone ou dos
tablets, pode ser uma forma divertida de contemplar a ideia bem humorada do
autor. Quem lê se expressa melhor e entende melhor as pessoas.
Finalmente, quem lê
fica sempre informado sobre o que está acontecendo no mundo e na sua região.
O jornal impresso e as revistas são os tipos mais comuns de leituras
informativas.
Para o meu gosto
pessoal, acho o escritor de crônicas o mais contemporâneo. Capaz de dizer em
poucas palavras muito do que desejávamos saber. Ele quase sempre agrega em seus
textos pitadas alegres, por mais sérios que seja a sua forma de ver uma
situação, tornando, assim, mais agradável a leitura.
A leitura é um grande
convite para recomeçar a entender a vida! Vamos nessa! Selecione um bom livro
para ler e descansar sua mente das atividades desgastantes do dia.
Boa leitura!
Tim-Tim!
Comentário: Neo Cirne
Colunista de UBAV