Ciência e Espiritualidade
“Ter a mente aberta, sem se apegar a
uma verdade única, é o que nos torna capazes de ver além das aparências.”
- Por Padma Samtem -
A Ciência e a Espiritualidade parecem campos longínquos ou
mesmo opostos. Há o campo do conhecimento confiável, testado na experiência
concreta, reprodutiva a qualquer momento. A água ferve a 100 graus e congela a
zero. Sendo a água, a temperatura e a pressão atmosférica as mesmas, o
resultado é igual, em qualquer lugar, a qualquer hora e com qualquer pessoa.
Parece não haver espaço para especulações filosóficas, psicológicas e muito
menos espirituais no campo da ciência.
Isso é um engano. Em qualquer livro de história da ciência
vamos encontrar uma lista enorme de visões que foram respeitáveis e se tornaram
ultrapassadas. Como pode o filósofo René Descartes acreditar que o número de
planetas do sistema solar estava associado aos números de sólidos regulares na
geometria? Como o pensamento de Aristóteles pôde perdurar por séculos até
Galileu Galilei provar que não importa o peso de um objeto, pesado ou leve,
todos caem na mesma velocidade?
Sim, existe o papel da mente. Nosso mundo interno dá vida e
realidade às aparências que chamamos mundo externo - mesmo com os cientistas.
Quando mudamos por dentro, o nosso passado muda e também o presente e o futuro.
Mudam as explicações, também as fotos, a conexão com as pessoas. Por que elas
se transformam sem cessar?
Há a espiritualidade. Buscamos incessantemente a felicidade e
queremos superar o sofrimento. Isso nos leva a buscar intensamente a terra pura
e perfeita onde isso seria possível. Como um pássaro, hoje nós estamos pousados
em uma situação e temos um nível de segurança. Ainda assim percebemos a
presença do desiquilíbrio e da aflição e nos preparamos para voar. Somos seres
vagueantes, andarilhos sem descanso e sem rumo seguro. Cientistas, filósofos e
psicólogos, curadores e regentes do mundo, todos passam por transformações.
Também nascem e morrem. A inevitabilidade dessas mudanças é o ponto que nos une
na busca pela transcendência.
Buda mostra que o engano cria as aparências. E essas
aparências, quando brotam do engano, são impermanentes. Isso gera a
insatisfação, o que nos leva à mudança.
Há a lucidez. O engano cessa. As aparências surgidas a partir
disso se revelam. É a mente que todo cientista sempre buscou: aquela que leva
adiante o conhecimento. É ela que vê além do que já existe, que encontra
soluções e que é livre das próprias disposições internas.
Há a presença incessante. A mente estável, além das aparências,
surge como uma experiência nítida que sempre esteve presente na vida, na morte
e nos momentos de mudança. Quando dormimos há uma mente testemunha que não
parece presente durante o sonho, mas é a que nos relatam essas imagens depois.
É mais do que a memória, é a ação silenciosa que sustenta a aparência. É mais
do que a memória, é a ação silenciosa que sustenta a aparência mágica daquelas
que nos enganam. Ela mesma não aparece nos filmes, nos livros, na vida, mas se
esconde nas aparências que produz.
‘Viver é o flutuar por esses campos complementares em sua complexidade
e magia em busca da terra pura’.
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PADMA SAMTEM é lama budista. Fundou e dirige o Centro de Estudos Budistas Bodisatva,
localizado em Viamão, RS.
UBAV-BRASIL agradece a
Carolina Santos, amiga do Rio de Janeiro, que nos enviou esta mensagem do dia.
A participação dos amigos, nos enviando artigos positivos e esclarecedores é
sempre muito bem-vinda. Colaborem com UBAV-Brasil, mandem suas matérias que serão publicadas com muito prazer. Tim-Tim
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Neo Cirne
Coordenador de UBAV
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