Manter as tradições, só por manter, não me parece correto. Se seguíssemos cegamente os costumes dos antigos, jamais evoluiríamos. Renegar todos os hábitos do passado tampouco soa bem. Seria abrir mão da experiência acumulada por inúmeras gerações. O melhor, acredito, é a constante avaliação, filtrando boas e más heranças.
Às vezes me lembro de cenas que jamais irão se repetir, como a minha família em roda na casa antiga, pés descalços na grama, girando o mate e contando histórias sob os salsos farfalhantes. Outras, penso em momentos que, por certo, vou reviver - o chimarrão que vai marcar o reencontro com amigos queridos, como uma obviedade que nem se propõe, só se cumpre. E junto a essas lembranças vou criando uma nova, pois nessas tardes de domingo já não mateio solito, mas com a pessoa com quem escolhi dividir a cuia e a vida.
Há beleza nisso tudo. Para os inventores do chimarrão, os índios guarani, a poesia dessa infusão virou mitologia. Conta-se que um velho e cansado cacique vivia com sua filha, Yari. Um dia, eles receberam a visita de um desconhecido, a quem dedicaram sincera hospitalidade. Grato, ele se revelou um enviado do deus Tupã e, como presente, ensinou a transformar a planta caa numa estimulante bebida. Assim, Yari virou Caa Yari, a deusa do mate.
Curioso haver uma lenda fundadora para algo tão banal quanto um chá? quem disse que o trivial não tem valor? Seja para filosofar sozinho, seja para aproximar as pessoas, o chimarrão inspira justamente isso: um retorno à simplicidade. Acho que é essa coisa boa que eu quero manter sempre que encilho um mate: o foco no essencial.
Autor: Dilson Branco
Fonte: Revista Sorria
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