A CURA ATRAVÉS DO AMOR
- Clara Codd -
Durante
muitos anos, o site de UBAV-BRASIL prestigiou aa matérias publicadas na REVISTA
SOPHIA, nós chegávamos a distribuir muitas assinaturas bianuais da inestimável
revista, que é voltada aos mais diversos assuntos ligados ao pensamento e à
vida.
Até o fim do mês de novembro republicar algumas de suas matérias
importantes. Nessa boa matéria de hoje Clara Codd ela fala da Cura através do Amor.
Recomendamos a leitura e a querida revista SOPHIA. Entendemos ser uma longa matéria, mas amor não se define em duas linhas.
Tim-Tim!
Neo Cirne
Colunista de UBAV
Este texto foi desenvolvido a partir de uma
pesquisa médica intitulada “A ciência descobre o verdadeiro amor”, que
corrobora relatos pessoais que me foram feitos por dois médicos famosos, um nos
Estados Unidos e outro na Austrália. Citarei alguns trechos desses relatos.
"Psiquiatras
concluíram que a grande maioria das doenças mentais é causada por desamor.
Psicólogos infantis, rivalizando por causa da alimentação programada versus alimentação
de demanda, ou espancamento versus não espancamento, descobriram que
nenhuma dessas coisas faz muita diferença, contanto que a criança seja
amada."
"Sociólogos descobriram que o amor é a
resposta para a delinquência; criminologistas descobriram que ele é a resposta
para o crime. Médicos também descobriram que a promiscuidade sexual ocorre, na
maioria das vezes, entre pessoas que foram privadas de amor". Este último
trecho lembra tanto o psicólogo Jung quanto J. Krishnamurti, que afirmaram não
haver problema sexual que não possa ser resolvido pelo amor.
Os médicos de Chicago também descobriram que
a alta percentagem de mortalidade nos orfanatos diminui quando as crianças são
cuidadas por mães adotivas afetuosas. Na verdade, o "amor de mãe" são
as plumas que forram o ninho dos ser humano; uma criança que não é amada fica
aleijada emocionalmente, e frequentemente fica até mesmo atrofiada em seu
crescimento físico. Esta é uma descoberta tão importante que somos forçados a
indagar o que é o verdadeiro amor.
O artigo prossegue: "Este não é o amor
tão comumente retratado em filmes e histórias”. É o amor que Jesus
ensinava; o mais simples, porém o mais complexo atributo do homem. Igualmente,
o mais incompreendido.
Segundo o Dr. Abraham Stone, de Nova Iorque, 'o amor é o maior remédio, mas a maioria das
pessoas, mesmo muitas daquelas que acham que são felizes no casamento, não sabe
o que é o amor’.
Podemos começar nossa pesquisa analisando o
que o amor não é.
1. Amor
não é possessividade: Não é transformar a outra pessoa à nossa
própria imagem. Lembro-me de uma mulher que me disse que tinha desistido de uma
amizade porque a outra pessoa não correspondia aos seus ideais. "Minha
cara", eu respondi, "por que
alguém deveria corresponder aos seus ideais? É suficiente que as
pessoas sejam elas mesmas".
Às vezes, uma mulher casa-se com um homem fraco
e tenta "reformá-lo". Não pode haver equívoco maior. Lembro-me de um
homem que me falou sobre seu desapontamento. Ele se casou com uma mulher vinte
anos mais jovem, pensando que poderia "formar o caráter dela", e,
obviamente, descobriu que o caráter dela havia sido formado há muito tempo.
Esse tipo de amor é um tipo de amor-próprio,
de presunção. Não é o verdadeiro amor. Segundo o Dr. Overstreet, "o amor a uma pessoa não implica a
posse daquela pessoa. Significa conceder-lhe, alegremente, o pleno direito à sua
singular masculinidade ou feminilidade".
Quantos problemas e quanta infelicidade são
causados por mães, maridos, esposas e amigos possessivos! Essa é uma doença
comum, e sua raiz está não no amor, mas no amor-próprio. Um grande número de
pessoas pensa que ama alguém, mas tudo o que faz é se projetar sobre a outra
pessoa.
Pais egoístas, que mantêm a filha cuidando
deles, acham que a amam, mas na realidade só amam a si mesmos e ao conforto que
a presença da filha lhes traz. A esposa ou marido ciumento não está amando seu
parceiro, mas sofrendo de um ataque de amor-próprio. É exatamente
isso que o ciúme é: não uma prova de amor, como popularmente se supõe, mas uma
evidência de amor-próprio.
2. Amor
não é dependência:
Existe uma adoração verdadeira e uma falsa. O
verdadeiro amor não agarra, não se enrosca em torno do ser amado. Não conta com
o amado para realizar a sua felicidade e os seus desejos. Não considera o ser
amado como alguém que deva retirar de seus ombros o fardo de tomar decisões, e
que deva abrigá-lo de todos os contatos difíceis com a vida.
3. Amor
também não é auto sacrifício:
Embora possa às vezes requerer sacrifício.
Mães superprotetoras que sacrificam o seu tempo para mimar e paparicar os
filhos, não os estão amando. Estão criando "aleijados psicológicos"
para o futuro.
4.
Admiração tampouco é amor.
Um homem pode pensar que ama sua esposa
porque ela é bela, talentosa, competente. Isso não é amor; é aprovação. Pode
surgir até da satisfação de possuir um bem tão atrativo. Admiração não é amor.
A bajulação frequentemente resulta do amor-próprio do admirador, na esperança
de conseguir algo do ser adorado. Essa aprovação pode facilmente tornar-se
ódio. Um herói pode ser destruído com a mesma facilidade com que foi adorado.
5. O
amor não depende dos atributos do ser amado, mas da habilidade que a
pessoa tem de amar.
Se o amor dependesse das qualidades da pessoa
amada, como poderia um cafajeste evocar amor sincero? O amor é um
vínculo da alma, forjado em vidas passadas. Às vezes esse vínculo, se for muito
forte, é reconhecido imediatamente; é o raro fenômeno do
"amor à primeira vista".
6. O
amor não é sexualidade
Embora possa glorificar e exaltar o
sexo. Quantos homens e mulheres jovens se casam por um superficial impulso
sexual, apenas para descobrir que se uniram a um estranho? Os "casamentos
feitos no céu" são a união de duas almas que se conheceram e se amaram em
outras vidas. Mas são raros. O outro caso é muito mais comum. O que fazer,
então? Buscar conhecer o "estranho" e convertê-lo num amigo. Nenhum
casamento pode durar se não estiver consolidado pela amizade, não apenas pelo
sexo.
Segundo
Krishnamurti:
"Onde existe amor, o sexo não é
problema. É a falta de amor que cria problemas. Quando você realmente
ama alguém, você partilha com ele tudo que possui. Amar é ser casto. Somente o
homem que ama é casto, puro e incorruptível. É somente para os poucos
que amam que a vida de casado tem significado e é indissolúvel. O amor não é
sensação nem pensamento. Quando o amor nascer você saberá como amar. Porque nós
não sabemos como amar alguém; nosso amor pela humanidade é fictício. Quando
você ama, não há um nem muitos, apenas o amor. Somente quando existir amor os
nossos problemas poderão ser resolvidos, e conheceremos a bem-aventurança e a
felicidade".
7. O
"amor de mãe" não é necessariamente amor:
H. P. Blavatsky diz que o amor comum de mãe não
está em um plano elevado. O Dr. William Menniger afirmou: "A melhor coisa que os pais podem fazer é ensinar seus filhos a
amar. Mas a única maneira de eles ensinarem a amar é pelo exemplo. As crianças
devem receber amor, para que mais tarde possam doá-lo".
Nós não amamos nossos filhos simplesmente
protegendo-os e suprindo suas necessidades. Um animal também faz isso. A
questão é: até que ponto ratificamos nossas crianças como pessoas? O quanto
respeitamos sua individualidade? O quanto nós lhes ajudamos a crescer de
maneira independente? Às vezes, as crianças são tão sufocadas, tão
arrumadas, tão cuidadas, que ficam sem qualquer iniciativa ou motivação, e
tornam-se pessoas problemáticas. Isso acontece mais com filhos de pais ricos do
que com famílias pobres, que têm outros problemas, mas onde, pelo menos, as
crianças são desde cedo postas em contato com a vida.
Aprendendo a amar
Os médicos e psicólogos concordam em que o
amor deve ser apreendido, Ele não surge "naturalmente", como se
supõe, Krishnamurti diz: "Você não pode pensar a respeito do
amor. Ele é um estado de ser."
Talvez em toda a longa peregrinação da alma
exista apenas uma lição a ser aprendida: como amar. Pode ser que a perda e a
separação aconteçam para nos ensinar essa lição, O que é a agonia de perder um
ser amado? Podemos dizer, sem crueldade, que é em grande parte a dor da perda
de sua presença confortadora, e que não estamos pensando tanto nela quanto em
nós.
Podemos
encontrar ou descrever o verdadeiro amor? Sim! Um dos grandes exemplos que
temos é o de Jesus Cristo.
Nos últimos encontros com Seus discípulos, Ele disse: "Um novo mandamento vos ofereço: que amem uns aos outros como Eu
vos amei."
Santa
Teresa de Lisieux
meditou durante longo tempo sobre essas palavras, para aprender a amar as
freiras suas irmãs assim como o Senhor amara Seus discípulos. Ela escreveu:
"Agora sei que a verdadeira caridade consiste em suportar todos os
defeitos do próximo, sem me sentir surpreendida com os erros, mas sentindo-me
edificada com suas menores virtudes."
São
Paulo
chamou esse amor verdadeiro de caridade, mas não a caridade superficial que
consiste de esmolas, geralmente de pequeno custo para o doador. Caridade vem da
palavra latina caro, querido. É a qualidade da pessoa para
quem todas as coisas são queridas. São Paulo disse que, sem esse amor, todos os
dons do espírito ou da personalidade não têm valor algum.
O amor pode esperar e acreditar para todo o
sempre. Pode acreditar no amigo quando ele tiver perdido a própria fé em si
mesmo. O amor não inveja. Se invejarmos um amigo, não o amamos realmente; ainda
existe em nós excesso de amor-próprio.
Francis
Bacon escreveu: "Um amigo é
alguém com quem nossas dores são divididas ao meio e as nossas alegrias são
duplicadas”.
O amor não se vangloria. O amor não é orgulhoso. Ele
é todo generosidade e humildade. Isento de egoísmo, o verdadeiro amor não
pode ser outra coisa a não ser comedido e cortês. O amor é totalmente estável e
fidedigno. Não é volúvel, não se altera quando encontra alteração. O verdadeiro
amor é desinteressado.
O amor não é facilmente provocado; ele é
lento para pensar no mal, rápido para perdoar. O amor não se regozija na
iniquidade, e sim na verdade. A sinceridade é a marca do amor. O amor jamais
tem motivos ocultos, duplos sentidos, aparência mentirosa. É completamente
honesto e gentil.
O amor suporta todas as coisas, acredita em
todas as coisas, tem esperança em todas as coisas, tolera todas as coisas.
Suporta todas as coisas porque está convencido da justiça última. Acredita em
todas as coisas com coragem e confiança infalíveis. Tem esperança em todas as
coisas porque está consciente de que, no fim, o bem e a alegria devem vencer.
Tolera todas as coisas com paciência divina. “A tolerância é a suprema qualidade, e a paciência é toda
a paixão dos grandes corações".
O amor surge do conhecimento intuitivo da
nossa eternidade, da nossa própria imortalidade. Uma das mais belas descrições
do verdadeiro amor vem de uma escritura tibetana, e diz que há sete tipos de
amor, três dos quais pertencem aos homens e quatro aos deuses. A primeira
forma, e a mais inferior, é a mera atração magnética, como existe entre átomos
e moléculas, planetas e sóis. Isso se exaure na união, assim como as
polaridades negativa e positiva desaparecem ao se encontrarem. A segunda pode
ser chamada de psíquica. Ela existe numa proporção de meio a meio: "eu te
amarei se me amares, e lembra-te de que me deves algo por eu te amar".
Isso já traz as sementes da sua própria morte. A terceira forma de amor é
difícil para os homens; ela tem que ser aprendida. É amar o ente
querido de tal maneira que se deseje apenas o seu mais elevado bem, e em seus
próprios termos.
Por não querer transformar os outros, o amor
os transforma. Um amigo é um amante. Ele não dá sermões, não aponta defeitos,
não condena; ele liberta.
Você não pode ter as coisas das quais não
abre mão. Você não pode ser livre das coisas que você retém. Reter é pertencer à coisa
retida, é criar um vínculo. Aquilo que você liberta pertence a você.
Você não pertence à coisa, pois você pertence ao amor.
Todas as coisas abaixo do amor aprisionam,
esmagam, pressionam, ferem. O amor é a realidade, é o libertador, o fazedor de
milagres. Ao fazer os outros felizes, você lhes oferece o sabor do céu na Terra
Um significado para a vida
Há muitos anos, na Austrália, encontrei um
grande psiquiatra que era diretor de um asilo para doentes mentais. Uma menina,
que foi sua paciente e a quem ele havia curado levou-me para ouvi-lo falar na
igreja presbiteriana. Era um homem profundamente religioso, e realizava curas
verdadeiramente maravilhosas por meio do amor e da oração. Ele conseguia os
mais surpreendentes sucessos com pessoas supostamente incuráveis, especialmente
os esquizofrênicos. A raiz do problema dessas pessoas, conforme ele afirmou,
era o fato de elas terem se desligado de qualquer significado real para a vida;
a cura consistia em restaurar isso com amor, paciência e oração.
Nos Estados Unidos, um médico amigo
relatou-me a experiência de outro psiquiatra que tratou um grande número de
pessoas supostamente incuráveis, internadas num sanatório ao longo de dez a
vinte anos. Quase todos foram curados. O método era muito simples. Entre os
pacientes estavam aqueles tão perdidos que permaneciam imóveis e aparentemente
alheios à realidade durante horas. Durante horas o psiquiatra permanecia junto
a eles, derramando toda a sua afeição e simpatia. Depois de um certo tempo, ele
começava a perceber uma pequena resposta. Daí em diante, passo a passo, ele
levava essas almas perdidas de volta à luz e à felicidade. O mesmo
efeito foi obtido pelo grande Hahnemann, o descobridor da homeopatia, que curou
um famoso general que enlouquecera.
Consta das escrituras hindus que a cura
involuntária acontece na presença de um homem consciente de Deus. Eu mesma vi
dois exemplos disso na pessoa de Krishnamurti. Segundo algumas tradições
esotéricas, todo iniciado é um curandeiro inconsciente, pois irradia o tempo
inteiro a vida e o amor de Deus. O intenso amor humano também pode curar; o
verdadeiro amor, não a vontade. O amor desinteressado, é redentor; é o
verdadeiro significado da vida. Sem ele, todas as outras coisas perdem o valor.
O amor
O amor vigia, e dormindo não dorme;
Quando fatigado, não está cansado;
Quando assustado, não está perturbado;
Quando sério, não está constrangido;
Mas como uma chama viva E uma tocha acesa
Ele sempre se eleva,
E com segurança passa através de tudo.
Quem quer que ame, conhece o apelo desta voz.
(Thomas Kempis)
FONTE:
Revista Sophia – Editora Teosófica