- O SABIÁ NA GAIOLA -
- Uma fábula
de Monteiro Lobato -
Lamentava-se na gaiola um velho sabiá.
– Que triste destino o meu, nesta prisão toda a
vida. E que saudades dos bons tempos de outrora, quando minha vida era um
contínuo pular de galho em galho em procura das laranjas mais belas.
Madrugador, quem primeiro saudava a luz da manhã era eu, como era eu o último a
despedir-me do sol à tardinha, cantava e era feliz.
Um dia, traiçoeiro visgo me ligou os pés.
Esvoacei, debati-me em vão e vim acabar nesta gaiola horrível, onde saudoso
choro o tempo da liberdade. Que triste destino o meu! Haverá no mundo maior
desgraça?
Nisto abre-se a porta da sala e entra o caçador,
de espingarda ao ombro e uma fieira de pássaros na mão.
Ante o espetáculo das míseras avezinhas
estraçalhadas a tiro, gotejantes de sangue, algumas ainda em agonia, o sabiá
estremeceu e horripilado verificou não ser dos mais infelizes, pois que vivia e
ainda não perder a esperança de recobrar a liberdade de outrora.
Refletiu sobre o caso e murmurou consigo:
– Antes penar que morrer.
Monteiro Lobato
José Bento Renato Monteiro Lobato foi um dos mais influentes escritores brasileiros de todos os tempos. Foi um importante editor de livros inéditos e autor de importantes traduções.