“QUANDO NIETZSCHE CHOROU”
Dois homens inteligentes dialogam e a conversa chega a um tema
complexo: a motivação. Um dos homens é Friedrich Nietzsche, polêmico filósofo
alemão, e o outro é Josef Breuer, famoso clínico vienense que foi professor de
Sigmund Freud, o ‘pai da psicanálise’.
Nietzsche, um homem muito doente, quer saber por que o doutor
Breuer insiste apenas em cuidar dos fracassos anteriores. Pergunta ao médico o
que o motiva a continuar insistindo no tratamento.
- É uma questão simples, professor Nietzsche. A pessoa pratica a
sua profissão: um costureiro costura, um cozinheiro cozinha e um clínico
clinica. Ganha-se a vida, pratica-se a sua profissão, e a minha profissão é servir,
aliviar a dor.
Nietzsche não se dá por satisfeito com a resposta do médico, pois
a considera muito simplista, e responde:
- Quando o senhor diz que um clínico clinica, um cozinheiro
cozinha ou que a pessoa pratica a sua profissão, isso não é motivação, é
hábito. O senhor omitiu de sua resposta a consciência, a escolha e o auto
interesse.
Breuer absorve o choque e argumenta:
- Por que então o senhor filosofa? Não seria essa a sua
profissão?
- Mas eu não alego que filosofo para o senhor, e sim para mim
mesmo, enquanto o senhor continua fingindo que a sua motivação é servir-me,
aliviar a minha dor. Disseque as suas motivações mais profundamente e achará
que jamais fez algo ‘totalmente’ para os outros. Todas as ações são autodirigidas,
todo serviço é autosserviço, todo amor é amor-próprio. Está surpreso? Talvez
esteja pensando naqueles que ama. Cave mais profundamente e descobrirá que não
os ama: ama, isso sim, as sensações agradáveis que tal amor produz em você. Ama
o desejo e não o desejado.
Trata-se de um diálogo instigante. Ele é fictício, está no livro
“Quando Nietsche chorou (Ediouro), de Irvin Yalom, professor de psiquiatria da
Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Os dois pensadores viveram na
mesma época, mas nunca se encontraram. O livro é baseado em ideias reais,
considerando a filosofia de Nietzsche e os pensamentos de Brauer, que com Freud
criou uma nova ciência. E aborda dois delicados temas dos comportamentos
humanos: o que realmente motiva as pessoas e a questão do egoísmo como algo que
pode ser positivo.
(Texto extraído do livro “Uma coisa de cada vez”, de Eugenio
Mussak, Editora Gente).
OPINIÃO UBAV
Selecionamos este texto por achar bem interessante e atual esta
discussão filosófica. Nos dias de hoje, observamos que o grande egoísmo encontra-se
enraizado no foco de todas as situações, seja no campo político ou social. Não
observamos mais a essência ética ou amorosa, no sentido amplo e sim, o
fortalecimento do egoísmo, da maneira como Nietzsche descreveu.
Esta mudança atual, tão evidente, talvez ocorra simplesmente por
um afastamento dos princípios éticos ou pela necessidade de sobreviver num
tempo mais difícil, onde a quantidade de habitantes no planeta e a luta para
obter uma vida digna é muito grande. Bem maior do que a época em que viveram os
protagonistas deste texto, há mais de um século, que viveram no Século XIX.
Recordo que, em 2007, num cinema de arte, assisti um filme, um drama, muito interessante “Quando
Nietzsche chorou’, e fiquei impressionado com os conflitos, enxaqueca e pesadelos que Nietzsche
viveu e com a oportunidade que teve em ajudar o seu médico Josef Brauer com seus conselhos. Um relacionamento profissional que, na obra fictícia de Irvim Yalom, transformou-se numa grande amizade”.
Lembrei do filme e desta passagem interessante, lendo-a retratada no livro 'Uma coisa de cada vez', Editora Gente, de Eugenio Mussak. Trata-se, como disse o autor, um diálogo instigante. O texto prefacia as considerações de Mussak no capítulo "Cada um na sua", onde aborda o egoísmo. Vale a pena você ler o livro do grande escritor, médico e professor, colunista de sucesso na revista "Vida Simples".
Fotos: wikipedia.org
* Você poderá assistir o filme (dublado) no link https://vimeo.com/72590052 - lembro que é um drama psicológico, recomendável às pessoas que gostam dos temas filosofia, psiquiatria e psicologia.
* Você poderá assistir o filme (dublado) no link https://vimeo.com/72590052 - lembro que é um drama psicológico, recomendável às pessoas que gostam dos temas filosofia, psiquiatria e psicologia.
Tim-Tim!
Neo
Cirne
Colunista
de UBAV