ESPÍRITO ABERTO
Sabemos da
quantidade de pessoas que passam necessidades reais, que estão desempregadas,
que não têm como alimentar os filhos, que têm uma doença séria, enfim, ninguém
ignora as mazelas do mundo. No entanto, muitas dessas pessoas que habitam as estatísticas não fazem parte do nosso
círculo íntimo. Na maioria das vezes, nossos amigos e familiares estão bem,
trabalham, possuem uma vida afetiva. Ok, eles têm lá seus problemas, mas não
são exatamente o retrato da desgraça. Ainda assim, me espanta que muitos deles,
mesmo sem motivo para cortar os pulsos, vivam como se fossem uns infelizes,
lidando com o dia-a-dia de uma forma pesada, obstruindo o próprio caminho em
vez de viver com mais leveza. São o que eu chamo de pessoas com o espírito
fechado.
Eu respeito quem traz uma grande dor e não sai
espalhando sorrisos à-toa, mas me enervo com quem fecha a cara
por simples falta de humor. Palavrinha mágica, esta: humor. Não me refiro a
quem faz piadinhas a todo instante, e sim a quem possui inteligência suficiente
para saber que é preciso relevar as incomodações, curtir as diferenças e ser
generoso com o que acontece à nossa volta. Humor significa ter um espírito
aberto.
Esta é a resposta para quem pergunta qual é a
“fórmula da felicidade” – alguém ainda pergunta isso? Eu
responderia: ter o espírito aberto, só. O resto vem. Amigos, amores,
oportunidades, até saúde: a fartura disso tudo depende muito da sua postura de
vida. Não é evidente?
Eu já fui um caramujo ambulante, daquelas criaturinhas desconfiadas, que torcia o nariz para tudo o que
não fosse xerox do meu pensamento. Desprezava os diferentes de mim e com isso,
claro, custava para encontrar meu lugar no mundo. Era praticamente um
autoboicote. Me trancava no quarto e achava que ninguém me compreendia. Ora,
nem podiam mesmo. Aliás, nem queriam.
Um dia – e ainda bem que esse dia chegou cedo, no
final da adolescência – eu pensei: calma aí, quem vai me
salvar? Jesus? John Lennon? Percebi que o mundo era maior do que o meu quarto e
que eu tinha apenas duas escolhas: absorvê-lo ou brigar contra ele.
Contrariando minha natureza rebelde, optei por absorvê-lo. Abracei tudo o que
me foi oferecido, deixei de me considerar importante, comecei a achar graça da
vida e, com a passagem dos anos, só melhorei, não parei mais de me desobstruir,
de lipoaspirar mágoas e ranzinzices – a não ser que desejasse posar de poeta
maldita, o que não era o caso. Me salvei eu mesma e fui tratar de aproveitar
cada minuto, que é o que venho fazendo até hoje.
Quando alguém me diz “como você tem sorte”, penso
que tenho mesmo. Mas não a sorte de receber tudo caído no colo, e sim a sorte
de ter percebido a tempo que nosso maior inimigo é a falta de humor. Sem humor,
brota preconceito para tudo que é lado. A gente começa a ter mania de
perseguição, qualquer coisa parece difícil e uma discussãozinha à-toa vira um
dramalhão. Prefiro escalar uma montanha a viver dessa forma cansativa.
Espírito aberto. Caso você não tenha recebido
gratuitamente na sua herança genética, dá pra desenvolver por si próprio.

UBAV-Brasil, indica com muito prazer as páginas do Facebook da escritora Martha Medeiros. Uma jornalista maravilhosa que tem encantado a todos com suas belas crônicas. Esta mensagem foi enviada por Cristina Castro-Niterói/RJ. Agradecemos imensamente.
Bom dia a todos!
Neo Cirne
https://www.facebook.com/CronicasDeMarthaMedeiros