“Bloco da Saudade”
Recordo um antigo samba do Martinho da
Vila, o “Segure tudo” de 1971, que tinha
uma estrofe muito sábia, aliás Martinho é um poeta. Quantas frases bonitas ele já
incluiu nas suas canções, porém esta é uma das que gosto mais. Numa linguagem
bem popular, ele começa dizendo assim:
Segure
tudo que for conquistado.
- Ele ressalta a importância da
conquista e deixa implícito que não importa a vitória, a conquista, e sim, a
manutenção do que foi conquistado. Tarefa difícil no mundo neurótico e
consumista que vivemos, onde descartamos tudo com muita facilidade. Podemos aplicar esta frase a tudo; aos valores
materiais, aos relacionamentos pessoais e às conquistas que desejamos alcançar.
O ser humano tem este hábito desde o tempo de criança. Desejando um brinquedo, às
vezes muito caro, pedem, imploram e choram pedindo aos pais que lhes dê o “tal presente”.
Os pais, sensibilizados, já irritados com o choro da criança e sem terem muitas alternativas, prometem comprar, fazem um esforço e compram o presente para o
filho. Ele adora, ama o momento de receber o presente que tanto quis e
brinca com ele durante uns dias, ou nem tanto.
Às vezes, brinca poucas horas e o deixa
de lado. Aquele momento em que foi presenteado foi um momento de grande
felicidade para a criança, mas passada a emoção, já não representa muita coisa.
Durante o resto da vida, seguimos com
este comportamento infantil. Lutamos tanto por um emprego, por exemplo, suamos para
passar num concurso que tanto desejamos, nos lascamos de estudar e passamos, conseguimos o êxito. Vem a
posse, o sabor do primeiro salário, a certeza de ser possuidor da capacidade de
alcançar o nosso objetivo pessoal. Nossa! Este emprego era "tudo que eu queria", pensa.
Passado uns anos, aquele trabalho não o
satisfaz, é cansativo, julga-se mal remunerado, imagina-se explorado, em suma, você o detesta. Assim, você começa a deixa-lo
em segundo plano, já não era "tudo que você queria". O emprego, tão desejado, que representava TUDO, passou a ser considerado um
peso, um fardo difícil de carregar, acordar cedo, tomar café correndo, enfrentar
o trânsito, aturar o mau humor do chefe e outras variáveis que são tão comuns a todos os
empregos passou a ser uma “falha da sua conquista”. Assim, de defeito em
defeito, vai ficando desinteressado pelo trabalho, e esquece-se o quanto você suou a camisa para
conquistá-lo.
Martinho da Vila continua o seu verso
melódico dizendo:
Segure o braço do seu namorado... Segure a
menina rapaz!
– Sabiamente, Martinho referiu-se a
este desinteresse pela conquista e o retratou no caso dos relacionamentos afetivos,
dos namoros, das conquistas amorosas.
Muitas vezes lutamos para conquistar
uma pessoa, ganhar o seu coração. A moça acha o seu namorado um príncipe
encantado, o homem maravilhoso, sem defeitos, um poço de virtudes, tudo que
sonhou. Lança um olhar sedutor para ele, palavras de carinho e, finalmente, conquista-o.
Passado um tempinho de convivência, observa
que ele deixa as suas roupas jogadas pelos 4 cantos da casa, que ele come de
boca aberta, que ele solta “pum”... E fede. Oh! Não é possível, exclama! Meu Deus, além de tudo "ronca"!!!
Assim,
de descoberta em descoberta, ela faz um rol das qualidades negativas do seu
príncipe encantado e transforma-o num grande “Sapo” e pensa: como irei
transformá-lo num príncipe novamente? Não conseguindo, começa a deixa-lo de
lado, tal qual a criança que ganhou o brinquedo.
Com o homem não é diferente, ele num
primeiro momento faz tudo por ela, é capaz de qualquer coisa para fazê-la feliz
e compreende-la. É a sua rainha, uma mulher sem defeitos (ledo engano... Ela leva duas horas para ajeitar o cabelo antes de sair e diz que a culpa é sua por chegarem atrasados na festa). Esquece-se que homem
e mulher têm hábitos, necessidades e comportamentos diferentes. A união do
casal busca o entendimento e o equilíbrio entre as partes. A maioria dos homens
cansa de tentar “moldar” a personalidade da sua amada de acordo com a sua
ótica, uma coisa impossível para qualquer mortal. E, com o tempo, começa a
deixar de lado a sua “rainha”.
É importante o casal querer moldar-se internamente, com delicadeza coloquem-se ne na posição do outro. Pensem assim, o que posso fazer para que
ela(e) seja imensamente feliz ao meu lado. Este é o princípio do sucesso conjugal, de uma caminhada longa e prazerosa.
A convivência saudável, o respeito
pelas diferenças, a presença, o carinho, a compreensão e a verdade são
atributos essenciais para a manutenção feliz deste amor tão desejado. Quanto
mais as partes tiram o foco desta felicidade comum, maior é o risco de
perderem-se. Risco do homem, o “príncipe”, transformar-se definitivamente num “sapo”
e da mulher, a “rainha”, ser rebaixada ao cargo de “Mucama” (escrava,
acompanhante da rainha).
Martinho finaliza a estrofe dizendo:
- Assegure o amor sem despedida, dando amor e lealdade, pra não terminar
a vida no tal do Bloco da Saudade.
Ninguém gosta de fazer parte deste
bloco da saudade, não é verdade? - A não ser do Bloco da Saudade do Recife, maravilhoso! - Então amigos, vivam intensamente as suas verdades e sonhos.
Valorizando o seu Amor pelo seu amado, com imenso carinho, esperança e desejo de torná-lo eterno, como todo
grande amor deve ser.
Como gostam de dizer os franceses românticos: VIVE L'AMOUR! O amor não é um brinquedo qualquer, ele é o nosso melhor sentimento e deve ser partilhado com muito cuidado, ternura e carinho.
Tim-Tim!
- Texto de Neo Cirne -
Vejam abaixo a vídeo da canção SEGURE TUDO, de Martinho da Vila:
Um dia feliz pra você!
Tim-Tim!
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Neo Cirne
Coordenador e Colunista de UBAV-Brasil
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