Olá amigos, bom dia hoje, na crônica de sexta-feira, apresentarei uma crônica bem-humorada de
Chico Anysio, um dos maiores humoristas (se não o maior) que este país já
possuiu. Com seu jeitão brincalhão, Chico conseguia fazer graça com os
problemas mais delicados que os brasileiros passavam. Com certeza,
cada um destes equívocos e escândalos que o governo se mete, como o mensalão; como o prejuízo à Petrobras da compra da refinaria de petróleo em Pasadena, no Texas e a atuação lamentável do
judiciário, votando favorávelmente à liberdade de políticos-malfeitores para que tivessem o privilégio de regime semiaberto... Isto, na ótica do Chico Anysio, teria virado piada.
Os humoristas, em parte, favorecem os infratores, pois lhes
diminui o peso dos delitos. Os acontecimentos que
ocorreram na década de 70/80 com o foguete brasileiro VSB-30, lançado do centro
de Lançamento de Alcântara, no Estado do Maranhão, fez com que Chico Anysio retratasse, com extrema
maestria, em sua crônica “O foguete brasileiro”, experimento que foi lançado ao
espaço com atraso e, ao retornar, pousou no mar. O módulo útil custou muito a
ser encontrado.
Dos anos 70/80 para cá, a indústria aeroespacial
desenvolveu-se muito, já estamos até nos dando ao luxo de inovar e lançar um foguete,
como o que foi lançado por esses dias, com combustível a base de Etanol.
Publicaremos a matéria que foi divulgada pela Agência Brasil
retratando o êxito do recente experimento.
Aplaudimos o inesquecível comediante, que, em
minha opinião, era um gênio. Como a vida imita a arte, Chico gostava de contar
este “causo” em seus shows. Vamos ler a sua crônica com muito carinho.
Tim-Tim!
O foguete brasileiro
(segundo Chico Anysio)
"Eu fico impressionado com a
tecnologia norte-americana, o lançamento de ônibus espaciais, e o pessoal
reunido no Centro Espacial de Houston, Texas, lançando a mais nova nave e a
previsão informada pela NASA:
- A Cápsula Espacial Odyssey descerá à Terra no Oceano Pacífico, a 1280 Km a
sudoeste de Pago Pago, na Samoa americana, no dia 18 do mês corrente, às 16h e
8 minutos”!
E a cápsula espacial desceu no Oceano Pacífico, a 1280 Km a sudoeste de Pago Pago, na Samoa americana, no dia 18, às 16h, 8 minutos e 4 segundos.
Os controladores da NASA se espantaram:
E a cápsula espacial desceu no Oceano Pacífico, a 1280 Km a sudoeste de Pago Pago, na Samoa americana, no dia 18, às 16h, 8 minutos e 4 segundos.
Os controladores da NASA se espantaram:
- 4 segundos de erro! Nossa, o que é que vão dizer da gente no Brasil, o que é
que a CBN vai dizer? 4 segundos.
Imaginem agora se o Brasil resolve lançar um foguete ao espaço. O lançamento ia ser em Manguinhos.
Imaginem agora se o Brasil resolve lançar um foguete ao espaço. O lançamento ia ser em Manguinhos.
- Mas em Manguinhos? Pergunta alguém.
- É em Manguinhos mesmo! Dá pro cosmonauta ir de táxi sem gastar muito!
Plataforma de lançamento, todo mundo em volta, completamente invadida. E tem o guarda querendo impor a ordem:
Plataforma de lançamento, todo mundo em volta, completamente invadida. E tem o guarda querendo impor a ordem:
- Sai daí, neném! Sai foguinho, vai queimar a bundinha! Sai daí, ô viado! Pode
passar não, pô, ó o cordão de isolamento! Ah, é deputado, desculpe!
Contornada a situação, agora o lançamento:
Contornada a situação, agora o lançamento:
- Três, dois, um, zero! Zero! Zero!!!!
- Queimou um fusível!
- Transfere o lançamento, então!
- Não transfere senão a Shell corta o patrocínio e ninguém lança mais nada!
- E como é que vai fazer?
- Vamos ter que consertar!
- Mas hoje é domingo, tá tudo fechado! Onde é que vamos encontrar um
especialista que conserte o foguete?
Especialista não há. Mas no Brasil há sempre aquele sujeito que não é, porém, quebra o galho.
Especialista não há. Mas no Brasil há sempre aquele sujeito que não é, porém, quebra o galho.
- (com voz de bêbado) paga uma brahma aí que eu quebro esse galho procês!
- Mas você conserta foguete?
- (com voz de bêbado) eu sou o rei do foguete! Trabalhei 4 anos na fábrica de
fogos Caramuru, foguete é comigo mesmo! Desce daí, gente boa, que eu vou mandar
minha brasa!
- Enquanto isso, vamos tomar um café?
- Vamos!
E aí o quebra-galho falou:
- (com voz de bêbado) não vai dar pra consertar aqui! Tem que levar pra
oficina!
- Como é que vai levar o foguete pra oficina?
- (ainda com voz de bêbado) Eu tô com a kombi aí, ô rapá, a kombi tem bagageiro
em cima!
- Não deixa levar que ele troca uma peça! Diz alguém.
Mais uma vez resolvida a situação, volta o foguete à plataforma. E os 3 cosmonautas subindo-a ao som do coro nacional:
Mais uma vez resolvida a situação, volta o foguete à plataforma. E os 3 cosmonautas subindo-a ao som do coro nacional:
- Bicha! Bicha! Bicha!
E na frente da astronave o policial diante dos heróis brasileiros:
E na frente da astronave o policial diante dos heróis brasileiros:
- Os documentos!
- Pô, sou cosmonauta, meu!
- Ordem é ordem, os documentos!
Estão sem eles. Então precisam tirar o
capacete para se identificarem. E o policial não reconheceu um dos três e chama
o chefe que logo vem e diz:
- (com sotaque estrangeiro, é claro) quem ser você?
- Eu sou o Júlio!
- (com sotaque estrangeiro) Júlio? Mas os cosmonautas são Felício, Miguel e
Figueiredo!
- É que o Figueiredo tá com a patroa doente em casa e me deu 50 conto preu ir
na vaga dele!
- (com sotaque estrangeiro) e você entender de foguete?
- Eu já fui chofer de lotação!
- Deixa que esse é quente! Diz alguém.
Não havendo tempo para mais nada, lá vai o foguete brasileiro, finalmente lançado. Mas o ir não é o mais o importante. Voltar, isso sim, é o melhor, pois é o momento de o Brasil demonstrar para o mundo a sua incrível precisão e capacidade de fazer bem feito cada empreendimento nacional:
Não havendo tempo para mais nada, lá vai o foguete brasileiro, finalmente lançado. Mas o ir não é o mais o importante. Voltar, isso sim, é o melhor, pois é o momento de o Brasil demonstrar para o mundo a sua incrível precisão e capacidade de fazer bem feito cada empreendimento nacional:
- A Cápsula Espacial Saci Pererê I descerá na Terra num dos oceanos,
provavelmente o Atlântico, entre quinta e domingo, se não chover!"
Este era o humor satírico de Francisco
Anysio, um homem inteligente e que, sem dúvida, está fazendo muita falta para minimizar a decepção nossa de cada dia com a classe política. Classe que depois de tantos anos de erro, volta
a pedir, em outubro, o voto de um povo bom, pacífico e de memória curta.
Tim-Tim!
Neo Cirne
Neo Cirne